terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Quando mulher fala em opções, critérios e escolhas, homens logo pensam que estamos falando de sapatos, esmaltes e liquidação, nesta ordem...

Mas já que falei em homens, seria muito mais fácil de flexionássemos os critérios de acordo com a demanda né?

Digo, se ao se tornarem escassos, também evoluíssemos a um ponto que não importássemos com a ausência de alguns predicados. seria mais logico, como acontece quando o salário é reajustado abaixo da inflação, quando engordamos e temos que abrir mão de nosso lindo manequim 36, 38.... e assim por diante, nas diversas situações que encontramos na vida.

Mas no amor, meus caros, não funciona assim. Quem dera, se ao perceber que não existem tantos homens disponíveis a um relacionamento serio restringíssemos a nossa lista de critérios, para assim abrir o horizonte de oportunidades aos que estão por ai, em cada esquina, esperando sua vez....

E então seguimos, com valores que as vezes parecem inalcançáveis para tantos, desprezados por muitos e invisíveis para a maioria.

semana que vem completo 25 anos....

Minha lista continua bem estruturada. Ainda nao abri mão de coisas como sinceridade, integridade, companheirismo, ambição de um futuro melhor e de uma família feliz!

Espero que não mude, e que minha opções se eleve além de sapatos e esmaltes.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Passagem do ano

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade